terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Caveira analisa: os dois primeiros episódios da nova minissérie de Arquivo X



Atenção: contém SPOILERS! Não continue lendo se você ainda não viu os novos episódios!

Antes de mais nada: fiquei feliz de rever a dupla de agentes do FBI mais amada da história da televisão. Anderson e Duchovny ainda conseguem criar aquela química perfeita entre os protagonistas. Foi muito bom rever Mulder e Scully e foi sensacional ver dois novos episódios de Arquivo-X, depois de quase quatorze anos. 

Sobre os episódios em si, as impressões e sentimentos são mistos.

É bom lembrar que essa nova minissérie será composta por um arco narrativo de seis episódios. Por isso, é importante ter em mente que não é possível avaliar a qualidade deste retorno da série com base apenas nestes dois primeiros. Aquilo que ainda veremos nos quatro episódios seguintes provavelmente mudará, para melhor ou para pior, a nossa percepção sobre estes dois episódios iniciais. 

Feita esta ressalva, é impossível escapar de observações críticas mais óbvias. O primeiro episódio, "My Struggle", é simplesmente uma bagunça e sofre de sérios problemas de andamento. Começa imensamente promissor, mas vai se tornando progressivamente mais anticlimático até chegar ao final, quando somos informados que a divisão Arquivo X do FBI foi subitamente reaberta (por qual razão? Sob a autoridade de quem? Como Mulder e Scully voltam magicamente a ser agentes do FBI da noite para o dia?) e tomamos conhecimento de que o mais memorável antagonista da série, o "Smoking Man" (que aqui no Brasil era ridiculamente chamado de "O Canceroso") ainda está vivo, apesar de o último episódio da série clássica, em 2002, ter mostrado detalhadamente, com direito a "close", que ele foi explodido com um míssil disparado em sua direção.

Tudo isso é perdoável. Uma pequena carência de detalhes aqui, uma ressurreição milagrosa acolá ... quem sabe ainda virá uma explicação razoável mais adiante? O que é menos digerível é a completa bagunça da trama do primeiro novo episódio. De uma hora para outra, somos apresentados a uma nova conspiração que contradiz grande parte do que a série original estipulava como canônico - e, em questão de minutos, vemos Mulder absolutamente convencido dessa "nova verdade" e desacreditando as conclusões de seu próprio trabalho de quase uma década no FBI. É duro de engolir - ainda mais porque a nova teoria conspiratória soa ainda mais inverossímil do que a anterior. A conspiração original era recheada de elementos fantásticos. A nova conspiração mantém a camada fantástica, mas adiciona uma nova camada que mistura os mais variados elementos de antiglobalismo, anticapitalismo, ultranacionalismo norte-americano e paranoia política e econômica. 

Ao final do primeiro episódio, não sabemos mais qual é a loucura "oficial" da trama - ou seja, se a nova piração é uma cortina de fumaça em torno da piração original ou se a piração original era uma cortina de fumaça em torno desta piração à qual somos apresentados agora. Se todo esse caos narrativo é uma forma genial de nos deixar confusos e imersos na história enquanto ela se desenvolve - ou se é apenas má técnica narrativa -, é coisa que só saberemos vendo os próximos quatro episódios.
Felizmente, o segundo episódio normaliza um pouco as coisas. Depois da vertigem de passar por aquele que é sério candidato a episódio mais esquisito e confuso de Arquivo-X de todos os tempos, somos na sequência confortavelmente apresentados a um episódio mais "normal", em estilo clássico, puro Arquivo-X dos anos 90 do começo ao fim, mas mantendo de forma sutil as conexões com a mitologia central da série e com o episódio anterior. De fato, se mostrou sábia e oportuna a decisão de exibir o segundo episódio logo depois do primeiro (com uma diferença de 24 horas, nos EUA, e ambos na mesma noite aqui no Brasil). O segundo episódio faz um belo serviço no sentido de dissipar a sensação de deslocamento e perplexidade causadas pelo primeiro episódio.

De qualquer forma, o certo é que nós, fãs da clássica série, temos todos os motivos do mundo para estarmos animados e empolgados com este tão sonhado retorno. Ainda é cedo para dizer mais coisas sobre este novo arco de seis episódios. Será apenas um breve "comeback" festivo, ou será o ensaio para um retorno triunfal de Arquivo-X com novas temporadas? Será um marco na mitologia da série, ou será apenas algo análogo a um spin-of oportunista? Vamos lembrar deles com carinho e excitação pelas próximas décadas, ou será apenas uma diversão rápida e descartável de verão? 

Ainda é cedo para dizer. A única coisa certa é que a verdade está lá fora. De novo. E isso, por si só, já é muito, muito legal.

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