sexta-feira, 29 de junho de 2012

O roteiro de Prometheus tem salvação? Aprofundando a análise sobre a continuidade entre Prometheus e Alien.


Se você já leu a minha análise de Prometheus aqui no blog, já está inteirado das muitas incongruências e incoerências do filme em relação a Alien, o clássico ambientado no mesmo universo. Segundo a minha análise, os realizadores de Prometheus se perderam completamente na continuidade e protagonizaram um verdadeiro fiasco narrativo com esse novo filme.

Mas será que as minhas críticas procedem? Os furos do roteiro de Prometheus têm provocado debates incessantes em fóruns na internet, e apareceram vários argumentos que tentam "limpar a barra" de Prometheus, sugerindo explicações possíveis para as "aparentes" incoerências do filme.

Para contribuir com esse instigante debate nerd - e pra colocar uma pedra de uma vez por todas nesse assunto de Prometheus, vamos analisar os argumentos a favor da coerência narrativa do filme em sua relação com o universo pré-estabelecido da série Alien e ver se, afinal de contas, alguma injustiça foi cometida contra o novo filme de Ridley Scott.

Na minha crítica a Prometheus, apontei os seguintes problemas na continuidade da história:

"1) No Alien de 1979, os tripulantes da Nostromo encontram o cadáver do Space Jockey fossilizado, aparentemente morto há milênios, sentado no que parece ser a cadeira de comando de um dispositivo de pilotagem da nave. Prometheus, no entanto, mostra que esse alienígena em particular teria morrido apenas 30 anos antes dos eventos do primeiro Alien (já que Prometheus se passa 30 anos antes). Ora, como o Space Jockey poderia estar fossilizado se havia morrido há apenas três décadas?

2) E, por falar nisso, já que Prometheus mostra o Engenheiro/Space Jockey morrendo dentro de um dos módulos da nave Prometheus, como é que os tripulantes da Nostromo poderiam ter encontrado o seu cadáver sentadinho na antiga nave alienígena?!?!?"

Bem, circula agora uma teoria que, num primeiro momento, poderia explicar essas questões. Segundo ela, a resposta seria muito simples: Prometheus não seria ambientado no mesmo planeta que aparece em Alien.

Pode parecer uma teoria estapafúrdia criada às pressas para dar coerência retroativa aos furos de Prometheus. Mas vamos com calma. De certa forma, a teoria tem alguns bons fundamentos.

Explico: Prometheus estabelece que o planetóide no qual o filme é ambientado se chama LV-223. O Alien de 1979, por sua vez, não dava nome ao planeta que era visitado pelos tripulantes da Nostromo. No entanto, a sequência Aliens, de 1986, informava que o nome daquele planeta do primeiro filme seria LV-426. Ou seja, presumivelmente no mesmo sistema que o planeta que aparece em Prometheus, mas um planeta diferente, no final das contas.


Trata-se, é verdade, de um bom argumento. Ora, se o cânone da série Alien já tinha estabelecido que o planeta que aparecia no primeiro filme se chamava LV-426, então, se os criadores de Prometheus quisessem ambientar o novo filme no mesmo planeta, seria natural que tivessem se referido a ele pelo mesmo nome. Ao ambientarem o novo filme num planeta chamado LV-223, de fato parece que a intenção dos roteiristas é situar a história num local relativamente próximo ao planeta mostrado no Alien de 1979 - mas, ainda assim, um planeta novo e diferente.

Isso significa, então, que estamos definitivamente de acordo que Alien (1979) e Prometheus são ambientados em planetas diferentes?

A resposta é, simplesmente, NÃO.

Explico: a história de Prometheus se passa no ano de 2093. Alien (1979) se passa em 2122 (quase trinta anos depois). E Aliens (1986) se passa em 2179, cinquenta e sete anos depois do primeiro filme. Ora, seria perfeitamente plausível que o planeta mostrado em Prometheus fosse chamado de LV-223 no ano de 2093 e, 87 anos depois, fosse conhecido como LV-426. O fato de dois nomes tão semelhantes apresentarem diferenças pontuais, no espaço de tempo de quase um século que separa Prometheus de Aliens, poderia apenas significar que o planetóide foi renomeado à medida que o mapeamento do espaço foi se tornando mais detalhado no universo da série.

É claro, e eu não nego, que estipular que se tratam de planetas diferentes aparentemente seria uma solução mais fácil. Mas convém lembrar dos seguintes problemas:

1 - Se o planeta de Prometheus de fato não é o mesmo planeta de Alien, então por que Prometheus faz questão de mostrar a nave alienígena - idêntica à encontrada em Alien - caindo na superfície e ficando exatamente na mesma posição da nave encontrada em Alien?

2 - Por que o roteiro de Prometheus terminaria com uma nave alienígena derrubada na superfície do planeta, se isso "nada tem a ver" com a nave alienígena derrubada encontrada na superfície do planeta de Alien?

3 - Se o planeta de Prometheus não é o mesmo de Alien, por que Prometheus faz questão de copiar o clima inóspito do planeta mostrado em Alien?

Como se vê, não estou convencido. Se a ideia de que os dois filmes se passam no mesmo planeta é confusa e incoerente, a ideia de que seriam "planetas diferentes" não torna esse queijo suíço menos furado.

De qualquer forma, para fins de argumentação, estou disposto a aceitar o pressuposto de que os dois filmes se passam em planetas distintos. Como vocês podem ver, eu estou disposto a aceitar qualquer argumento racional que possa salvar Prometheus do fiasco de ter arruinado a continuidade da série Alien! 

Mas a pergunta que fica é: assumindo que a história de Prometheus se passa num planeta diferente, o roteiro está a salvo? A continuidade com Alien é reestabelecida? Temos, enfim, um prequel coerente com o clássico filme de 1979?

Chorem, meus amigos, mas a triste verdade é: NÃO! O roteiro de Prometheus, no que diz respeito à continuidade com Alien, simplesmente NÃO TEM SALVAÇÃO, conforme demonstrarei.

É o seguinte: a teoria que tenta salvar o roteiro de Prometheus sugere que, quando houve o primeiro contágio do vírus desenvolvido pelos Engenheiros (fatos mostrados em Prometheus), um desses Engenheiros teria escapado de LV-223 e caído em LV-426. Esse seria o Engenheiro (o famoso "Space Jockey") encontrado pelos tripulantes da Nostromo em Alien. Como se vê no clássico filme de 1979, pelo peito arrebentado do cadáver, se supõe que ele acabou infectado pela criatura que tradicionalmente chamamos de "alien" (também conhecido popularmente como o "xenomorfo").

Esse descontrole da arma biológica dos Engenheiros em LV-223 e a consequente fuga de um dos Engenheiros para LV-426, por óbvio, teria ocorrido milhares de anos antes dos eventos de Prometheus. Vale lembrar que os Engenheiros encontrados mortos em Prometheus estariam mortos "há cerca de dois mil anos", segundo um dos personagens da trama. Do mesmo jeito, o Engenheiro/Space Jockey encontrado em Alien estava FOSSILIZADO - ou seja, estava morto há muito, muito tempo.

É aqui, meus amigos, que a cobra fuma e que a porca torce o rabo.

Acontece o seguinte: antes dos eventos mostrados em Prometheus, não existia, em LV-223, a criatura que chamamos de "alien" ou "xenomorfo". O que existia, isso sim, era uma arma biológica (o líquido negro) que causa mutações em outras formas de vida. Interagindo com formas de vida locais e infectando os próprios Engenheiros, o líquido negro liquidou seus próprios criadores.

Mas e o xenomorfo? Como ele surge? Ora, Prometheus estabelece que "o alien" surge através do seguinte procedimento: primeiro, o andróide David infecta o arqueólogo Charlie Holloway com o líquido negro, misturando a substância numa bebida ingerida pelo personagem.

Depois disso, Holloway fez sexo com sua esposa, a Dra. Elizabeth Shaw. O resultado dessa transa com o infectado Holloway é que a Dra. Shaw fica grávida de uma criatura alienígena semelhante a um polvo - os produtores de Prometheus chamam essa criatura de Trilobite

Quem viu o filme sabe que a Dra. Shaw remove o Trilobite cirurgicamente de dentro dela, mas o bicho continua vivo. Ao final do filme, já bastante crescido, o Trilobite infecta o último sobrevivente da raça dos Engenheiros em LV-223. Infectado, o Engenheiro, depois de um certo tempo, tem seu peito arrebentado pelo nascimento do primeiro ALIEN

Vale lembrar: tudo isso é mostrado em Prometheus, ou seja, se passa 30 anos antes dos eventos do filme de 1979.


Ora, mas se O PRIMEIRO "alien" surge durante os eventos de Prometheus, COMO aquele Engenheiro que teria "fugido" para LV-426 (milhares de anos antes dos eventos de Prometheus) poderia ter morrido por estar infectado por um alien/xenomorfo? Como a sua nave, em LV-426, poderia estar repleta de ovos de alien (como sabemos, só a Rainha-Alien é capaz de colocar ovos)?

É, meus amigos, não tem jeito: o roteiro de Prometheus não tem salvação não ...

 
Já no desespero, alguém poderia argumentar "ah, mas aquele alien que aparece nascendo em Prometheus não é necessariamente o primeiro". Talvez outros aliens/xenomorfos tenham sido gerados milhares de anos antes, podendo ter infectado o Engenheiro que foi pra LV-426 e enchendo a nave deles de ovos.

O problema é que essa interpretação é invalidada pelo próprio roteirista de Prometheus, Damon Lindelof. Para ele, o xenomorfo possui ancestralidade humana - ou seja, a Dra. Shaw é, sim, uma das mães do clássico monstro "alien".

Vejam só o que Lindelof fala sobre a questão: "I felt that the punchline of Prometheus was going to be that there is human DNA in what we have come to know as the human xenomorph." ("eu sinto que o arremate de Prometheus seria de que existe DNA humano naquilo que nós viemos a conhecer como sendo o xenomorfo").

Significa dizer: não há como salvar a continuidade de Prometheus com o Alien de 1979. Situar o Engenheiro/Space Jockey em um planeta diferente daquele mostrado em Prometheus não muda o fato de que o xenomorfo surge durante os eventos de Prometheus, 30 anos antes dos eventos do primeiro filme da série Alien - e que, portanto, seus descendentes não poderiam ter ido parar em LV-426 milhares de anos ANTES dos eventos de Prometheus.

A única (e ridícula) explicação possível é de que haveria OUTRO Engenheiro vivo em LV-223 durante os eventos de Prometheus (embora não mostrado no filme em nenhum momento) e que, depois do fim da história do filme, ele teria acordado, saído de LV-223 e caído em LV-426, tendo sido infectado pela recém-nascida espécie do xenomorfo. Daí, no espaço de três décadas, o corpo do Engenheiro de LV-426 teria FOSSILIZADO dentro de sua própria espaçonave. Parece ridículo? Bom, é porque é ridículo mesmo! Mas seria a única explicação possível, caso fosse de fato possível salvar o roteiro de Prometheus.


Minha dica para os fãs da cinessérie Alien? Continuem amando os maravilhos filmes de 1979 e 1986, dispensem as fracas continuações de 1992 e 1997 e simplesmente ESQUEÇAM que Prometheus existe - ou pelo menos finjam que é um filme de ficção-científica sem qualquer relação com a série Alien. Pelo menos é isso o que eu vou fazer ...

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Caveira analisa: PROMETHEUS (2012)


Duas coisas a serem ditas sobre o diretor Ridley Scott. Primeira: o homem dirigiu Alien (1979) e Blade Runner (1982), dois dos melhores filmes de ficção-científica já feitos (na minha modesta opinião, o segundo é simplesmente o melhor filme de todos os tempos, dentre qualquer gênero). Segunda: achar, a essa altura do campeonato, que o diretor ainda é um "gênio" de "reputação ilibada" é uma demonstração de ingenuidade. Já faz tempo que Scott vem demonstrando sua propensão a se vender para roteiros furados e produções de qualidade artística duvidosa, tudo em nome do potencial lucrativo. Vale lembrar que ele dirigiu o constrangedor Hannibal (2001), a tardia e completamente dispensável sequência do clássico O Silêncio dos Inocentes, de 1991. Scott também assinou, em 2010, aquele Robin Hood patético protagonizado por um Russell Crow vinte quilos acima do peso. E, para que ninguém pense que o diretor começou a se desvirtuar apenas na aurora do século XXI, convém lembrar do bobíssimo G.I Jane, estrelado por Demi Moore, dirigido por Scott em 1997. 

Ou seja, estamos falando de um diretor que, se por um lado ostenta um currículo de gênio da sétima arte (Alien, Blade Runner, Gladiator, Black Hawn Down), por outro já provou diversas vezes que é capaz de assinar tranquilamente bombas hollywoodianas banais e pobres em narrativa, desde que o retorno financeiro compense o sacrifício. E adivinhe, caríssimo leitor, em qual categoria Prometheus se encontra? Obra-prima cinematográfica ou trash acéfalo de orçamento multimilionário?

Adivinhe!!!

A pobreza narrativa e a completa falta de integridade do roteiro de Prometheus - mais furado do que um queijo-suiço - contrastam miseravelmente com a pomposa pretensão do pesado marketing criado em torno do filme. Prometheus vinha há meses criando um enorme hype na mídia internacional, gerando expectativas imensas e prometendo o testemunho do surgimento de um novo clássico do cinema, tudo com a benção da pressuposta genialidade de Ridley Scott, revisitando o universo da cinessérie Alien.

Bom demais para ser verdade, não é mesmo?

E era mesmo. 

 
O pior de tudo em Prometheus é que ele não é aquele tipo de filme cujas expectativas se esvaem logo nos primeiros quinze minutos de projeção. Não, muito antes pelo contrário: até mais ou menos a primeira metade do filme, Prometheus funciona muito, muito bem. O visual captura a imaginação do espectador, o mistério da história vai se desenvolvendo num crescendo de curiosidade mística e alguns momentos de genuína ansiedade e terror espacial vão surgindo na tela, para deleite de quem assiste.

Durante a primeira meia hora de filme, eu quase acreditei que Ridley Scott, do alto de seus 74 anos de idade, estava trazendo ao mundo mais um clássico absoluto. Mas, em algum ponto pelo meio do filme, Prometheus começa a desandar. E rola ladeira abaixo, em alta velocidade. E o pobre espectador sente o seu rosto se transformando num enorme pirulito escrito "Sucker", que nem acontecia com os adversários do Pica-Pau quando feitos de trouxa pelo incontrolável e risonho pássaro topetudo. Prometheus começa com cara de Ridley Scott, mas termina com cara de Michael Bay. E tudo com muitos efeitos em 3D, para adicionar mais profundidade visual a uma narrativa tão rasa quanto um prato de sopa.


Se você encarar Prometheus como um filme de ficção científica autônomo e completamente independente do universo Alien, o resultado final até pode ser descrito como sendo uma F.C acima da média. Mas isso se deve mais ao fato de que o gênero é frequentemente maltratado pelo cinemão americano do que propriamente pelas qualidades de Prometheus - que são poucas e esparsas.

O que é que não funciona no filme? Bom, é tanta coisa que acho melhor enumerar:

1) um dos roteiros mais furados já vistos no gênero, que deixa claro que Ridley Scott e os produtores não se decidiram entre fazer um remake de Alien, uma continuação de Alien ou um filme de ficção inteiramente novo;

2) a talentosa (e gata) Charlize Theron naquela que é certamente a pior interpretação de sua carreira, decorrente da personagem mais pobre que já foi oferecida para a atriz até hoje;

3) o design de criaturas ridículo, apresentando monstruosidades feita em CG que mais parecem saídas de um episódio do desenho do Bob Esponja. Se você considerar que o genial artista plástico H.R Giger (um mestre na arte de conceber criaturas e cenários mórbidos, horrendos e evocativos e criador do visual da criatura Alien original) participou da produção, é realmente incrível ver o quanto o talento dele foi subutilizado em Prometheus;

4) a imbecilérrima ideia de empobrecer a história em favor de uma possível (leia-se: muito provável) continuação. É mais ou menos como se Scott estivesse tentando nos convencer de que tem uma boa história na manga para nós e que Prometheus é apenas uma espécie de "prelúdio" para ela. Não custa lembrar que, antes do lançamento do filme, Prometheus foi vendido como um "prelúdio para Alien"...

5) a completa falta de coerência sobre a forma como operam os organismos alienígenas de Prometheus. Alguns humanos expostos ao contágio simplesmente morrem, outros viram mutantes, outros viram mutantes agressivos e a mocinha do filme, ao transar com o marido infectado, fica grávida de um ... polvo alienígena! Ai ... meu ... SACO!!!

6) a burrice que toma conta até dos detalhes da narrativa. Pergunto: se o DNA dos Engenheiros é "100% compatível" com o dos humanos, então como é que eles podem ser uma espécie diferente e alienígena, com inúmeras diferenças físicas que tornam impossível confundir as duas espécies?

7) o processo inconsciente (ou consciente?) de imitar tudo o que fosse possível do primeiro filme da série Alien, incluindo a protagonista feminina, o personagem negro, o andróide traiçoeiro e a sub-trama do tipo "queremos levar um espécime destes conosco para a Terra". Eu sei que Alien é um ótimo filme, mas será que Ridley Scott realmente não tinha mais nada para fazer do que ficar imitando de forma tão ridícula um filme que ele próprio dirigiu há 33 anos atrás?


Mas não se engane, caro leitor. Isso tudo o que você leu até agora é a abordagem POSITIVA do filme. Decepção MESMO é se você encarar Prometheus como uma história anterior ao Alien de 1979 e ambientada no mesmo universo - ou seja, se você julgar o filme como sendo precisamente aquilo que ele próprio anunciou que seria!

Daí sim, o buraco é mais embaixo. 

 
Os mais comedidos têm batido o martelo no sentido de que Prometheus seria uma "decepção" para os fãs da série Alien. Puro eufemismo, a coisa é bem pior do que isso. Prometheus é simplesmente um CABO DE VASSOURA na bunda dos fãs da série Alien! 

É o pior, o mais vergonhoso, o mais incompetente, o mais incoerente, o mais descompromissado, o mais indiferente e o mais detestável prequel da história do cinema. No que diz respeito ao universo Alien, TUDO está errado em Prometheus! Quer tirar a dúvida? Então me acompanhe numa breve retrospectiva - mas cuidado com os spoilers! Se você ainda não viu Prometheus, recomendo parar de ler por aqui.

No clássico Alien de 1979, nossos queridos amiguinhos da nave Nostromo estavam voltando para a Terra quando, de repente, captam uma transmissão vinda de um planetóide próximo. Interpretando o sinal como sendo um pedido de socorro, nossos intrépidos heróis se dirigem ao desolado corpo celeste. Lá, eles encontram uma antiga estrutura que parece ser uma nave alienígena, e dentro dela encontram um enorme corpo de um alienígena, fossilizado, com um rombo na ossatura do peito, dentro do que parece ser uma espécie de cadeira de pilotagem da nave


Só que tudo isso perde qualquer importância logo em seguida, pois os pobres exploradores do espaço logo dão de cara com uma outra espécie alienígena, violenta e letal, que supostamente foi a causa da morte do misterioso extraterrestre da nave. O resto, como sabemos, é história.

Na realidade, a cena com o Space Jockey (o apelido que recebeu esse enorme cadáver alienígena que aparece no primeiro Alien) é uma homenagem (para não dizer cópia) de uma cena semelhante que aparece no pouco conhecido filme Planeta dos Vampiros (Terrore nello spazio, de 1965), dirigido pelo mestre do cinema de horror italiano Mario Bava. Aliás, o Alien de Ridley Scott já foi por diversas vezes considerado como uma espécie de cópia hollywoodiana do inovador (apesar de bastante falho) filme de Bava. O mínimo que se pode dizer é que Planeta dos Vampiros foi uma grande influência para Alien.

 
De qualquer forma, o Space Jockey nunca foi nada além de um "pano de fundo narrativo" do primeiro Alien, um detalhe imaginativo para proporcionar aos espectadores um grande efeito cênico. Só que, de uns dez anos para cá, o diretor Ridley Scott começou a falar sobre a possibilidade de um novo filme ambientado no universo de Alien, focando na história do Space Jockey. É compreensível: a franquia Alien foi semidestruída pelo péssimo Alien Resurrection, de 1997, e depois a coisa degringolou de vez com o ridículo (porém divertido) Alien vs. Predator (2004) e com a vergonhosamente ruim continuação Aliens vs. Predator: Requiem (2007). O momento não era propício para se pensar num novo filme da série Alien - e pelo menos Scott teve a decência de não ousar cogitar um remake do magnífico filme de 1979. 

 
A maior (única?) contribuição de Prometheus para o cânone da série Alien é que ele estipula que a raça alienígena à qual pertence o Space Jockey, na verdade, é uma raça humanóide que criou a espécie humana a partir de seu próprio DNA. Aquela cara esquisita, que lembra uma cabeça de elefante, na verdade era apenas um capacete usado pelo Space Jockey. Sem roupa, os integrantes desta espécie são humanóides de tamanho agigantado. Por conta disso, a Dra. Elizabeth Shaw, protagonista de Prometheus, chama essa raça de "os Engenheiros". Ou seja: Prometheus gira em torno da busca pela raça alienígena que criou a humanidade, que vem a ser a espécie do Space Jockey cujo cadáver aparece no primeiro filme da série Alien. Tudo certo até aí?

 
Bem, é aí que começam os problemas para os fãs de Alien, já que NADA em Prometheus fecha com o cânone estipulado pela cinessérie Alien. Vamos conferir:

1) No Alien de 1979, os tripulantes da Nostromo encontram o cadáver do Space Jockey fossilizado, aparentemente morto há milênios, sentado no que parece ser a cadeira de comando de um dispositivo de pilotagem da nave. Prometheus, no entanto, mostra que esse alienígena em particular teria morrido apenas 30 anos antes dos eventos do primeiro Alien (já que Prometheus se passa 30 anos antes). Ora, como o Space Jockey poderia estar fossilizado se havia morrido há apenas três décadas?

2) E, por falar nisso, já que Prometheus mostra o Engenheiro/Space Jockey morrendo dentro de um dos módulos da nave Prometheus, como é que os tripulantes da Nostromo poderiam ter encontrado o seu cadáver sentadinho na antiga nave alienígena?!?!?

3) Prometheus estabelece que o primeiro Alien (o tradicional monstrinho que todos nós conhecemos bem) foi "parido" pelo Space Jockey, que foi infectado pelo monstro que se formou no ventre da Dra. Elizabeth Shaw, depois que ela fez sexo com o seu marido, que estava infectado pelo agente patológico desenvolvido pelos Engenheiros para exterminar a raça humana. Ora, mas como é que, trinta anos depois, a velha nave alienígena do Space Jockey poderia estar cheia de ovos de Alien? Por acaso os roteiristas de Prometheus se esqueceram do fato de que o cânone da série Alien estabelece, para além de qualquer dúvida possível, que apenas a Rainha-Alien coloca ovos? Como o indivíduo que se vê "nascendo" no final de Prometheus é claramente um Alien "padrão", é evidente que ele não poderia ter botado nenhum ovo e que, sendo o único exemplar da sua espécie, ele provavelmente teria morrido naquele planetóide desolado antes da Nostromo chegar por lá.

Eu teria outras incongruências e furos do roteiro para apontar, mas creio que já provei meu ponto.

Para concluir, fica a minha sugestão pessoal: se você não é nenhum aficionado por Alien e não faz a menor ideia do que seja o Space Jockey, vá ver Prometheus sem qualquer preocupação na cabeça e tente se divertir na medida do possível. 

Agora, se você é fã da série Alien, saiba que você irá se irritar vendo Prometheus. Por mais que a pessoa esteja disposta a separar o novo filme do cânone da série Alien, para quem é fã, a decepção é muito, mas muito grande. Sem compromisso com experiências comparativas, vamos apenas supor que seja mais ou menos do tamanho de um cabo de vassoura ...

Para encerrar: não quero desejar mal para ninguém, mas vendo Prometheus, concluo que só o que nos resta agora é torcer para que Ridley Scott não viva por tempo suficiente para levar adiante a ideia de dirigir uma continuação de Blade Runner!



domingo, 3 de junho de 2012

Os Caça-Fantasmas ... em Porto Alegre!





Sensacional produção original do ótimo blog Naftalina!