domingo, 14 de fevereiro de 2010

SPEKTRO nº 5


Dando continuidade à nossa retrospectiva sobre a mais memorável revista de quadrinhos de horror brasileira de todos os tempos, vamos analisar mais um número de SPEKTRO. As edições de números 1 a 4 já foram comentadas no post anterior, então agora é hora de falarmos da Spektro nº 5, lançada em março de 1978.

De cara, a revista inovava por ser a primeira Spektro "temática": o Especial dos Vampiros. Todas as 11 histórias eram sobre vampiros, o mesmo valendo também para o conto escrito O Convidado de Drácula, bem como para as outras seções da revista, como as matérias sobre cinema e a seção de piadas "Humor Negro".

Outro destaque dessa edição é que apenas três histórias eram de origem americana. Pela primeira vez, a maior parte do material de Spektro era de produção nacional, o que representava uma notável mudança num pequeno espaço de tempo, já que a revista estava apenas no quinto número e tinha começado publicando só material vindo dos EUA.

O Especial dos Vampiros abre com a história Nos Domínios de Drácula, de Nico Rosso. Meio sem graça, acaba sendo redimida pela história que fecha a edição, Drácula Volta a Atacar. Como "arco" de histórias, acabou ficando interessante (a segunda parte é muito melhor do que a primeira). Essas histórias foram originalmente publicadas nos anos 60 em algumas boas revistas de terror nacionais pré-Spektro, como "Seleções de Terror".

Vampiro, de Shimamoto, é alardeada no editorial da revista como sendo a melhor história da edição e a melhor já escrita por Shimamoto. Um exagero, sem dúvida. Embora seja interessante a abordagem metalinguística do "assassino moldado pela violência da ficção pop que acaba vítima de um ícone dessa mesma ficção pop", a curta duração da história compromete a atmosfera que o autor tenta construir e acaba neutralizando o impacto da inusitada reviravolta. O resultado acabou ficando um pouco acelerado demais, e próximo demais do bobo e ingênuo.

O Pesadelo Espetacular, uma das três histórias "gringas" deste número, é simplesmente péssima e absurdamente previsível e enfadonha. O então estreante Reinaldo Cardoso Simões apresenta O Banquete, que é bastante bobinha e não convence com sua reviravolta final exageradamente forçada.

Semente do Mal, dividida em duas partes, é de autoria de Ataíde Braz e Roberto Kussumoto. É uma das melhores histórias desta edição, cheia de elementos interessantes, embora pudesse ter sido mais interessante se tivesse um andamento mais dinâmico e confiasse mais nos desenhos e menos nos textos, utilizados aqui em excesso. Na trama, um demoníaco vampiro italiano se refugia numa pequena cidade do interior do Brasil e acaba despertando a paixão de uma mulher solitária, que depois vem a descobrir a horrível verdade por trás de seu amado.

O material importado não fez bonito nesta edição. A Vila do Vampiro, outra história americana, é mais um exemplo de HQ excessivamente previsível, aborrecida e "enlatada". A terceira e última história gringa, O Amuleto do Terror, não se sai muito melhor, e "chupa" em excesso elementos do clássico "Dracula" de Bram Stoker.

O Tradutor de Hebraico, de R.F Luccheti, é outro bom momento desta edição. Ela tem uma cruel e irônica reviravolta final que remete ao estilo das clássicas histórias da Tales From the Crypt americana.

Flávio Colin rouba a cena com Um Vampiro é Nosso Rei. Trata-se de mais uma história já então antiga, publicada originalmente no início dos anos 60, mas que se sai bem em todos os aspectos: andamento, narrativa, atmosfera, reviravolta final, tudo é perfeito. Uma das melhores histórias desta Spektro, sem dúvida.

Numa avaliação geral, essa Spektro nº5 está longe de representar o melhor da revista. A ideia de fazer uma edição somente com histórias de vampiros, que num primeiro momento parece legal, aparentemente limitou a diversidade criativa típica da revista, resultando num excesso de histórias burocráticas e previsíveis. O ponto baixo da edição são mesmo as histórias americanas, que além de comparecerem em número reduzido ainda ficam muito abaixo da média das publicadas em edições anteriores. Ainda assim, os bons momentos de Colin, Luccheti e Rosso fazem com que o saldo final seja positivo.

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