terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

SPEKTRO - uma retrospectiva da Era de Ouro dos quadrinhos de horror nacionais (Parte 1)


Para um blog chamado A Cripta do Caveira que tem o slogan "humor, horror, nerdice & rock n' roll", temos falado pouco de filmes, revistas e livros de horror por aqui, não acham? Para compensar essa falha inadmissível, vamos relembrar a melhor publicação de quadrinhos de terror já produzida aqui no Brasil: SPEKTRO, da finada Editora Vecchi.

A primeira edição da revista foi publicada há nada menos do que 33 anos atrás, em janeiro de 1977. Inicialmente, o nome da revista era As Histórias Sobrenaturais do Dr. Spektro. Logo na introdução, os editores apresentavam o Dr. Adam Spektro como sendo um estudioso do oculto e do sobrenatural, e esclareciam que aquela revista seria o começo da Coleção Eureka Terror, e que a intenção posteriormente era de publicar histórias não só do Dr. Spektro como também de outros personagens.

Em algumas histórias, o Dr. Spektro era um dos personagens da trama. Em outras, ele era meramente o narrador. O curioso é que essa edição nacional omitia completamente as fontes do material original, que era todo trazido dos EUA. Apenas os nomes dos autores (Don Glunt e Jesse Santos) eram mencionados. Mas a origem do Dr. Spektro é a seguinte: seu nome original é Dr. Spektor, e ele apareceu pela primeira vez em julho de 1972 na edição nº5 da revista norte-americana Mystery Comics Digest. No ano seguinte, o personagem ganhou sua própria revista - The Occult Files of Doctor Spektor - que teve 25 edições entre 1973 e 1982.
Voltando à edição nacional, é preciso reconhecer que a revista, de cara, já era um marco dos quadrinhos de horror brasileiros. Esse primeiro número contava com nada menos do que 196 páginas e 15 histórias, um verdadeiro deleite para os fãs de horror.

O número 2, de agosto de 1977, já apresentava o nome da revista como sendo Spektro (com o subtítulo Histórias Sobrenaturais na parte superior da capa), aposentando o título original. A revista inovava também por apresentar pequenas reportagens sobre literatura de horror e matérias sobre desenhistas do estilo. O editoral explicava que a revista teria uma periodicidade mais regular e que passaria a contar não só com histórias do Dr. Spektro como também com contos de dois outros "doutores": o Dr. Morte e o Dr. Mistério.


O editorial desta segunda edição também fazia o favor de esclarecer a origem desses personagens, e uma pesquisa na internet mostra que os editores explicaram tudo direitinho mesmo: o Dr. Morte (Doctor Death no original) era o narrador das histórias em quadrinhos da revista americana This Magazine is Haunted, cuja primeira circulação foi de 1951 a 1953. Esses quadrinhos só não eram mais pioneiros porque já vinham na esteira do grande sucesso da EC Comics, Tales From the Crypt. O Dr. Morte era um sujeito sinistro de aparência cadavérica, cujo rosto parecia parcialmente um esqueleto, e vestia trajes elegantes em estilo vitoriano. Como outras publicações similares da época, This Magazine is Haunted foi prejudicada pelo moralismo vigente nos EUA na época, que resultou inclusive num "Código de Ética" aprovado pelo legislativo americano e que literalmente varreu do mapa essas revistas "subversivas". Entre 1954 e 1958, a publicação voltou mais "light", tendo o insosso Doctor Haunt como substituto do Doctor Death. Uma versão mais bundona do Dr. Morte, o Doctor Haunt era precisamente o Dr. Mistério que apareceu a partir do número 2 de Spektro.
O número 3 de Spektro, de outubro de 1977, já começava a apresentar a fórmula clássica da revista, pois introduzia quatro histórias nacionais, criadas pelos talentosos Flávio Colin e Julio Shimamoto. No entanto, essas histórias ainda eram reprises de material publicado em revistas nacionais entre o final dos anos 50 e começo dos 60. É, muito antes de Spektro já haviam revistas de quadrinhos de terror no Brasil. Apesar de apresentarem eventualmente bom material nacional, frequentemente essas várias publicações pré-Spektro constituiam-se basicamente de "catadões" de material norte-americano (publicado muitas vezes em traduções de qualidade duvidosa e por vezes até mesmo sem permissão das editoras estrangeiras), sem o volume de conteúdo que caracterizou Spektro desde os primeiros números.
O nº 4 de Spektro, de janeiro de 1978, é a minha edição favorita até hoje. Foi o primeiro exemplar de Spektro com o qual tive contato, no começo dos anos 90. A revista, aqui, já era de uma qualidade sem precedentes: apresentava material nacional de Shimamoto, Colin, R.F Lucchetti, Nico Rosso e recuperava histórias antigas de Manoel Ferreira. Esse último aproveitava para exibir uma pequena contribuição original para Spektro, uma adaptação ilustrada do conto "O Tesouro", de Eça de Queiroz. Apesar de curta, a história ficou sinistríssima, com desenhos magistrais. Ainda nesta edição, O Dr. Morte narra aquela que, para mim, é uma das mais sinistras e memoráveis histórias já publicadas na revista, "A Tapeçaria de Tolchime", como uma atmosfera e qualidade de traço que remetem para aquele padrão de qualidade sensacional das antigas Tales From The Crypt.
  
Por enquanto é isso, pessoal. Aguardem a continuação da nossa retrospectiva Spektro para mais boas memórias sobre este grande e velho orgulho dos quadrinhos de terror brasileiros.


(com agradecimentos ao excelente site http://www.nostalgiadoterror.com/ pelas imagens das capas de Spektro!)

Um comentário:

robinho disse...

Essa coleção e fantástica . Eu li e tenho todas desde a nº 1 .